A roleta russa da Aids

Um grupo de jovens, querendo extrapolar na experiência da adrenalina, organiza uma festa que inclui muita bebida e sexo. Belas mulheres e homens. Mas um deles é portador do vírus HIV. Ninguém sabe, exceto o organizador da festa.

Os casais homo ou heterossexuais vão se formar durante a balada, sem qualquer impedimento ou censura. Um jogo de vale tudo do sexo, sem camisinha. Isso mesmo! Os participantes da tal “brincadeira” não se protegem durante a relação sexual.

Por isso o nome roleta russa, porque, naquela noite, a pessoa que, sem saber, fizer sexo com o convidado soropositivo estará correndo o risco de se contaminar. Como acreditar que alguém opta por correr esse perigo ou expor outros ao perigo pelo simples prazer de uma noite diferente, pela descarga de uma adrenalina a mais? Eu duvidaria desta história se não a tivesse escutado de um dos maiores especialistas em Aids no Brasil, David Uip.

Pois o infectologista coleciona histórias absurdas de como pacientes jovens estão se contaminando com o vírus da Aids. A festa da roleta russa é apenas uma das muitas irresponsabilidades que jovens brasileiros cometem na hora da relação sexual. Segundo o Dr. Uip, esses jovens têm entre 15 e 25 anos. Uma turma que não viu a Aids matar. Não viu astros da música e do cinema serem consumidos pelo vírus quando os coquetéis contra a doença ainda não estavam disponíveis no mercado.

Pra eles, Aids é só mais uma doença que tem tratamento. A despreocupação em se prevenir é tamanha que em palestras que faz sobre a doença a pergunta mais comum que o Dr. Uip ouve nestes grupos é: “o que fazer depois que já tive a relação sexual sem camisinha?”. Os jovens falam disto como se a pílula do dia seguinte para Aids fosse algo banal.

É claro que existe uma maneira de tentar evitar a doença, quando a exposição ao vírus tiver acontecido ou em caso de forte suspeita de contaminação. Vou dar apenas dois exemplos – uma mulher estuprada tem que recorrer aos cuidados médicos para se submeter ao tratamento que pode combater o HIV. Ou um médico que tenha se acidentado com agulhas ou instrumentos contaminados com sangue de pacientes soropositivos. Mas essa é uma saída de emergência, para casos de extrema emergência.

Esses são exemplos de pacientes que são vítimas da violência ou de acidentes. É absurdo imaginar que jovens optem pelo sexo sem camisinha e só pensem em usar remédios depois, caso desconfiem que se envolveram com alguém contaminado. Isso, quando a preocupação vem. Porque muitos sequer pensam nessa possibilidade. Vivem como se o HIV fosse uma realidade apenas para os outros, nunca pra si mesmo. E são muitos pacientes chegando ao ambulatório nessas condições.

Uma febre alta não diagnosticada, gânglios na região do pescoço e quando se submetem aos exames descobrem que estão com HIV, com a carga máxima de virulência, porque acabaram de se contaminar e estavam mantendo relações sexuais com diversos parceiros, sem saber que já faziam parte das estatísticas da doença. Foi assim com um jovem executivo, que acabara de completar 30 anos.

Após fazer fortuna com os negócios que herdou da família, faturar R$ 1 bi, ele resolve comemorar com uma festança, com muitos parceiros e/ou parceiras, sem qualquer regra e, claro, sem proteção. Afinal, ele era um novo bilionário, merecia uma comemoração inesquecível. E foi. E ele continua muito rico, só que agora é soropositivo.

Ao descobrir essa história imaginei se não há um preconceito entre jovens do tipo desse rapaz. Uma crença burra e preconceituosa de que o HIV não frequenta festas de ricos, bonitos e famosos. Seja como for, Aids tem tratamento, mas não tem cura. Tratar a Aids custa caro e deixa sequelas.

Muitos brasileiros soropositivos estão lutando pra ter saúde, qualidade de vida e, ainda hoje, lutando contra o preconceito. Merecem todo nosso respeito e a luta deles deve servir de lição. Uma lição ainda ignorada por muitos. Não existem seres especiais, imunes ao HIV. Acreditem, ninguém está imune contra a Aids

Por: Entre nós, por Adriana Araújo

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