Rússia avalia proposta de paz de Lula para Guerra da Ucrânia

O governo russo está analisando uma proposta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de criar um grupo de países não envolvidos no conflito na Ucrânia para mediar uma solução pacífica para o conflito que já dura um ano. Mikhail Galuzin, vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, deu uma entrevista à agência estatal Tass na quinta-feira (23), onde expressou reservas sobre a viabilidade da proposta e enfatizou a necessidade de considerar a evolução militar do conflito.

Galuzin reconheceu a proposta de Lula e afirmou que a Rússia está analisando as iniciativas sob o prisma da política equilibrada do Brasil e considerando a situação no campo. A Rússia é parceira de Brasil, China, Índia e África do Sul no grupo diplomático Brics.

A proposta de Lula, apresentada inicialmente ao chanceler alemão Olaf Scholz em Brasília e levada ao presidente Joe Biden em Washington, pede uma tentativa de resolver o conflito por meio de um “clube da paz” que inclua países como Índia e China.

No entanto, a proposta foi recebida com frieza por dirigentes que mantêm a posição ocidental de buscar derrotar militarmente a Rússia, o que é considerado impossível até pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos, Mark Milley.

O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, terá a oportunidade de discutir o tema com seus colegas russos, chineses e indianos durante reunião do G20 em Nova Delhi, na Índia, na próxima semana.

No primeiro mandato de Lula como presidente, de 2003 a 2010, a política externa foi prioridade, até porque foi uma boa vitrine do momento econômico favorável do país, aproveitando o boom das commodities impulsionado pela China. No entanto, a reputação de Lula foi prejudicada pelo fracasso do acordo nuclear com o governo iraniano, negociado por Brasil e Turquia, mas bombardeado pelos EUA, e pelo constante apoio a ditaduras de esquerda próximas ao PT.

A situação em relação à proposta de Lula tem nuances complexas, especialmente devido à posição da China como potencial mediadora. Na quinta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que “quer se encontrar” com os chineses e gostaria de vê-los nessa função.

Na véspera, o presidente russo, Vladimir Putin, reuniu-se com o diplomata chinês Wang Yi, que reforçou a aliança entre os dois países e preparou o terreno para um novo encontro entre Putin e o líder chinês Xi Jinping.

Apesar de não ser um acordo militar, Putin e Xi selaram a aliança vinte dias antes da guerra no contexto da Guerra Fria 2.0, e a cooperação entre os dois países tem crescido significativamente, com patrulhas e exercícios conjuntos. Na quinta-feira, as marinhas da China e da Rússia realizaram manobras inéditas com a África do Sul, outro integrante do Brics.

Os EUA acusam a China de planejar enviar armas para ajudar os russos, o que Pequim nega. Na quinta-feira, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, alertou contra isso, dizendo que “a China não deve apoiar a guerra ilegal da Rússia, é claro”.

Por outro lado, os chineses demonstraram ambiguidade: não condenam os russos, mas insistem que a guerra deve parar. Em um debate na ONU na quinta-feira, o vice-embaixador da China no órgão, Dai Bing, disse que “os fatos brutais oferecem ampla prova de que o envio de armas não trará a paz”, criticando os EUA.

Isso lança dúvidas sobre a validade de um “clube da paz”, principalmente sem seu ator mais musculoso. No entanto, também é notável que há uma percepção crescente no Ocidente de que a guerra pode ter unido o bloco de países liderado pelos EUA, mas que outras nações não necessariamente alinhadas com a China ou a Rússia têm uma postura independente.

“Estou muito impressionado com a forma como estamos perdendo a confiança do Sul Global”, disse o presidente francês Emmanuel Macron na Conferência de Segurança de Munique no último sábado, sobre como os países se comportam

O que você achou dessa notícia?

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Rolar para cima