Amiga diz que servidor que invadiu condomínio em Itapuã e morreu era esquizofrênico

Ferido após quebrar porta de vidro, Jaques Freitas seguiu moradora até desmaiar e morrer

Uma amiga do servidor público federal Jaques Freitas, que morreu na sexta-feira (23) ao se ferir durante a invasão de um condomínio em Itapuã, diz que ele sofria com um transtorno mental e estava em surto.

“Ele tinha diagnóstico de esquizofrenia, não é tão antigo, mas a gente já sabia”, disse Grace Bulcão em entrevista à TV Bahia. “Jaques sempre foi um gentleman, engraçado, brincalhão, um doce. Infelizmente ele tinha uma doença, que levou a tudo isso”, afirmou ela, que trabalhou com o servidor.

Ela afirma que Jaques já tinha sofrido um episódio de surto anteriormente. “O primeiro surto ele correu pra mata, passou dois dias, voltou e foi para um quartel dizendo que estava sendo perseguido, que iriam matar ele”, reconta.

A amiga diz que entende a reação das pessoas diante da abordagem de Jaques, mas não acredita que ele queria praticar violência sexual contra a mulher que seguiu. “Nesse surto ele estava no meio de pessoas. Infelizmente viver no meio de pessoas é extremamente difícil. Se eu fosse a mulher que estava na casa e ele tivesse entrado, eu também teria agido, empurrado, achado que queria me estuprar. Mas tenho certeza que essa não foi a intenção”, acrescenta.

Ela pede que o nome do amigo não fique manchado pelo episódio que antecedeu sua morte. “Ele tem dois filhos, tem família, isso não pode manchar a vida dele, o que ele viveu, o que fez, o que foi como pessoa”.

Jaques deixa dois dois filhos, que moram em Rio Grande do Norte, de onde ele é. O corpo do servidor segue no Instituto Médico Legal (IML) e ainda não há informações sobre o enterro.

Invasão e morte
Câmeras de segurança flagraram boa parte do episódio, que durou 35 minutos. Jaques saiu de casa no condomínio em que mora, também em Itapuã, se jogando no portão. Vizinhos contam que ele correu e pegou uma “carona” pendurado em um carro que passava, indo até um condomínio próximo, na Travessa Flamengo. Ele invade o local se jogando na porta de vidro – momento em que se fere.

Com um pedaço de vidro na mão, ele tenta seguir duas moradoras, que escapam. Ele entra então em um apartamento que estava com a porta aberta, onde mora uma inglesa. 

“Ele entrou no apartamento de uma moradora, estrangeira, que tem o hábito de deixar a porta aberta. Ele tirou a roupa e a agarrou. Ela conseguiu se livrar dele e correu para a piscina e ele foi atrás”, contou a síndica Rita Reis.

“Ele caiu duas vezes no corredor, depois chegou na piscina, foi atrás da estrangeira e caiu novamente. Ele se ajoelhou e começou a fazer movimentos como se estivesse rezando, batendo a cabeça no chão e depois começou a agonizar. Quando mergulhou contra o vidro da porta de entrada, ele quebrou a mão e se cortou todo, inclusive na perna. O perito disse que atingiu a veia femoral”, acrescenta.

O servidor acabou morrendo na área de lazer do condomínio.

Vizinhos descreveram Jaques como alguém tranquilo. Ele já tinha morado brevemente no condomínio em que morreu, durante o período de separação da esposa.

Um dos vizinhos de Jaques disse que ontem à noite ele chegou eufórico. “Ele não bebia, mas ontem ele estava muito agitado, falando coisas que ninguém entendia e depois entrou. Instante depois, ele tentou pular a janela de minha casa e não deixei. Ele estava fora de si. Em seguida, entrou na casa de outro vizinho pela janela , quebrou algumas coisas e saiu por onde entrou, sendo que a porta estava aberta”, contou.

Área da piscina ficou com marcas de sangue após morte de invasor
(Foto: Marina Silva/CORREIO)

O vizinho disse que um outro morador do condomínio levou a polícia até a casa se Jaques. “Nunca ficamos sabendo que ele usava drogas, mas foi encontrada uma certa quantidade de cogumelos, que podem ter a ver com o surto”, disse o vizinho. Jaques era uma pessoa tranquila. “Ele morava aqui há bastante tempo e nunca tivemos problema. Era uma pessoa tranquila, idônea, do bem. Foi uma surpresa tudo isso”, completou o morador. Ele disse também que o funcionário público tinha se convertido ao islamismo há um ano.

Ele informou que Jaques era funcionário do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA), na área de tecnologia da informação (TI). “Ele trabalhava no TRE daqui e vivia viajando a trabalho pela Bahia. Passava mais tempo fora do que aqui”, contou. A reportagem entrou em contato com o TRE-BA, mas até o momento não teve resposta.

Separação
Jaques nasceu no Rio Grande do Norte e em janeiro iria à casa dos pais, para rever os dois filhos pequenos, que residem com a mãe, com quem era separado há cerca de dois anos. “A ex-mulher estava arrasada. Ela  está vindo para liberar o corpo”, relatou. 

Ainda de acordo com o vizinho, Jaques morou no Condomínio Studio Oceânico, na Travessa Flamengo, onde, logo após quebrar os portões de casa, invadiu e tentou estuprar uma moradora e acabou morto. “Na ocasião do processo da separação, ele saiu de casa e foi morar lá, passando uns dois meses. Quando a ex foi embora com os filhos para o Rio Grande do Norte, ele voltou pra aqui. Ontem, Jaques estava tão alucinado, que acreditava que ainda morava lá”, contou.

Porém, moradores do Condomínio Studio Oceânico não lembram de Jaques. “Nunca o vi. Moro aqui há muito tempo”, disse a professora Kátia Magalhães, 59. A mesma coisa disse a síndica. “Ninguém lembra dele. Só se foi uma passagem muito curta, porque muita gente aluga apartamentos aqui”, disse ela.

Investigação
Em nota, a Polícia Civil informou que uma equipe do foi acionada na madrugada desta sexta-feira (23) sobre a morte de um homem, ainda não identificado, em Itapuã. De acordo com testemunhas, ele teria tentado estuprar uma mulher e na fuga acabou se ferindo e morreu no local. O corpo, já removido para o IML, foi localizado em via pública. 

As guias periciais foram expedidas e os laudos vão esclarecer a causa da morte. As circunstâncias do ocorrido serão apuradas pela 1ª DH/Atlântico.

Por Correio

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